sexta-feira, 27 de maio de 2011

Reflexão 5 - “O chico-esperto, descendente em linha directa do pato-bravo...”

O “pato-bravo” era o nome porque ficaram conhecidos nos anos sessenta e setenta, alguns trolhas que iam para Lisboa oriundos da província, sobretudo das beiras e Ribatejo, para trabalharem na construção civil, e que poucos anos depois se transformaram em construtores, voltavam à “santa terrinha” de Mercedes preto, e com muitas notas de conto de réis no bolso.

O “chico-esperto” é uma figura bem mais complexa e de difícil definição. O filósofo José Gil, no contexto de Portugal, define o chico-espertismo como: “... A habilidade de contornar a lei ou mesmo violá-la subtilmente com fins egoístas”.

Mais popularmente, digamos que todos nós conhecemos a figura do “chico-esperto”, dos tempos de escola, também conhecido pelo “carapau de corrida”.

O “chico-esperto” era aquele que, quando o professor perguntava “quem foi que descobriu?”: respondia despudoradamente, “fui eu...”! Qualquer que fosse a sua verdadeira qualificação. Com isso, o “chico-esperto”, tentava cair nas graças do poder, como o líder, chefe de seita, o melhor de todos, pisando os colegas, trapaceando, fazendo batota...

A verdade é que todos sabiam-mos que ele não passava de um arruaceiro, preguiçoso e malcriado, que projectava a sua existência medíocre, à custa do copianço, da batota e da má influência que exercia sobre dois ou três microcéfalos que se obrigavam e abrigavam na sua envaidecida protecção. O “chico-esperto” era uma figura odiosa para a maioria da turma, causadora de repúdio ou de receio, mas ele próprio parecia viver bem com isso, porque o seu objectivo era passar de ano, não por mérito, mas pela batoteira imagem de liderança que passava junto dos professores á custa das “chico-espertices” que fazia.

Quando conheci, num congresso em 2005, o figurão sobre quem hoje aqui reflicto, ele era presidente da Mesa do Congresso do partido em que milito, era ali uma espécie de “deus” para a quase maioria dos meus condiscípulos que, quando ele entrava na sala, faziam um silêncio sepulcral, com todos os olhos a seguirem-no, como se ali chegasse o “altíssimo”!

Invoco assim Dias Loureiro, o homem mais poderoso da maior fraude pós 25 de Abril, o BPN/SLN, que quase destruiu o sistema financeiro português. Mas podia replicar este “figura de estilo”, por muitos outros que por aí abundam, mas penso que o seu exemplo, representa na perfeição o título deste Post. Um dia Dias Loureiro afirmou:

“Quando entrei na política ganhava 40 contos por mês (...), e quando saí da política em 1995, não tinha dinheiro nenhum...”

Seis anos mais tarde declarou em sede de IRS, renumerações mais elevadas do que Belmiro de Azevedo (tido como o homem mais rico do país), ou seja, quase 200 mil contos gerados pelos negócios, e pela sua actividade como advogado.

Para ilustrar esta Reflexão, deixo-vos um pequeno texto que encontrei por aí na blogosfera, mas que eu gostaria de ser o autor:

“Manel, vieste tu para Lisboa, vindo de Aguiar da Beira, meteste-te na política, e acabaste como ministro da Administração Interna do Cavaco. Foste tu o responsável pela carga policial sobre a malta que estava a bloquear a ponte 25 de Abril.

E sabes quem te sucedeu no cargo, depois de o PSD perder as eleições (por causa da ponte e do feriado do Carnaval)? Pois foi o Jorge Coelho – que coincidência!

Ou então, não é coincidência – é a chamada solidariedade beirã…


Mas vê onde chegaste! Conselheiro de Estado, hã?!


E rico, muito rico – não graças aos ordenados de ministro e de deputado, diz o Pacheco Pereira – e digo eu, que sei como são os ordenados dos quadros da Função Pública.


Portanto, ficaste rico graças ao BPN e a negócios como aqueles de Porto Rico?


Ou ganhaste o Totoloto várias vezes?


De qualquer modo, fiquei com pena de ti, quando te vi ontem, na SIC, a seres entrevistado por aquele jornalista de economia, com ar sério. Que carinha tão inocente fizeste, durante toda a entrevista. Fizeste-me lembrar aqueles putos que acabam de fanar os chocolates todos da dispensa e dizem, com carinhas de anjinhos: «não fui eu, mãezinha…»


Mas podes estar tranquilo.
Nada te vai acontecer. A coisa vai engonhar nos tribunais, engonhar, engonhar, até seres bisavô...”

Por causa deste e outros “chico-espertos”, Portugal vai estar penhorado para muitos anos, só o BPN vai custar-nos 5 mil milhões de euros.

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