quinta-feira, 2 de junho de 2011

Reflexão 8 – “O medo/coragem”

A figura que hoje aqui invoco é a do empresário Peter Villax que teve a coragem de questionar o poder instituído em Portugal, personalizado nos últimos anos por José Sócrates, que elevou ao máximo na sociedade portuguesa o todo-poderoso culto da personalidade.

Peter Villax, um português de origem húngara, presidente da Associação Portuguesa de Empresas Familiares, num colóquio organizado pelo Jornal Diário Económico, teve a coragem de afrontar Sócrates com a seguinte questão, que é bem mais que uma simples pergunta, e que daria para escrever muitas páginas sobre o assunto:

“"Eu tenho um problema essencial consigo, os seus actos não reflectem as suas palavras...";




Ao questionar assim José Sócrates, Villax punha o dedo na ferida num dos maiores embustes na política portuguesa, que é a dos políticos portugueses não serem responsabilizados e julgados pelas promessas que fazem em campanhas de propaganda da banha da cobra, e depois com o maior desplante, quando chegam ao poder, metem-nas na gaveta, e estão-se nas tintas para quem os elegeu.

Isto só é possível numa sociedade fechada, que não evoluiu em termos de mentalidades, que continua a ser atormentada pelas metástases do cancro social que é o “medo”. Ou como dizia ontem o jornalista britânico Barry Hatton, autor do livro “os portugueses”: “... Portugal evoluiu, os portugueses é que não!”

Já agora e para ajudar à reflexão, e a propósito do “MEDO”, relembro aqui o que escrevi no discurso que proferi em Marvão, por altura das comemorações do 25 de Abril de 2010:

“O medo que durante 50 anos do anterior regime nos acompanhou (para não ir mais atrás), e que pensávamos condenado com a revolução de Abril, está por aí instalado com a mesma força, ou mais, na sociedade portuguesa, embora com novas variáveis.

Hoje o MEDO social não é extrínseco, como o que tínhamos da polícia política, dos “bufos” da Legião, de Caxias, do Aljube, do Tarrafal, ou do exílio. Hoje o MEDO é intrínseco, sem rosto mas com ouvidos; um MEDO que não sabemos de quê, nem de quem, mas que nos persegue, sufoca e quase nos tira o direito de EXISTIR.

Vivemos numa sociedade acrítica, inibidos de nos pronunciarmos, de investirmos, de nos associarmos. Somos cultivados para nos calarmos, para nos fecharmos nas nossas “casas subsidiadas” em frente às “caixinhas mágicas”, que nos servem tudo enlatado por uns “senhores” que tratam da nossa felicidade imaginária.

Vemos os golos dos outros, e pensamos que são os nossos; vemos as casas dos outros, e pensamos que são as nossas; vemos os desgostos dos outros, e pensamos que são os nossos; vemos os romances dos outros e pensamos que são a nossa felicidade; choramos pelos outros, e no nosso âmago, choramos afinal, por nós próprios.

Mas cá no fundo mina a não realização, o mal-estar, a inquietação e, mesmo a revolta.

Uma sociedade de MEDO, é uma sociedade que não troca ideias, que apenas fala em surdina, que não investe, que não corre riscos e, consequentemente, não progride.

O MEDO é um dos cancros sociais em Portugal que urge extirpar, e cabe-nos a todos começar a prevenir que o “bicho”, um dia destes, se desamarre e se revolte de dentro de nós, com consequências imprevisíveis.”

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