terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Oxalá estejam todos bem, e que deus nos acompanhe...


Este Post é dedicado a todos os meus amigos, sejam eles médicos ou pacientes. E qualquer semelhança com factos reais (não) será “pura coincidência”. Mas demasiado sério, para que assim não seja levado... 

(Adaptado)

O ti Manel andava razoavelmente bem de saúde, e até ainda lhe arrumava uns tintos, até que a sua esposa a ti Maria dos Remédios, a conselho da sua filha “tontinha”, lhe disse:

“-Oh Manel, vais  fazer 70 anos, está na hora de fazeres um "chéqup" no médico.
- Para quê, se ando bem, respondeu o ti Manel!
-Porque nã sabes como tás por dentro, e a prevenção deve ser feita agora, quando ainda andas bem, disse logo a ti Maria.”

Então o ti Manel, para não fazer desfeita, lá foi ver um médico. O médico, sabiamente, mandou-o fazer Testes e Análises de tudo o que poderia ser feito. Duas semanas mais tarde, o médico disse que os resultados estavam muito bons para a sua idade, mas tinha algumas coisas que podiam melhorar. E então receitou:

Comprimidos Atorvastatina para a pontinha de colesterol, Losartan para proteger o coração e a hipertensão, Metformina para um princípio de diabetes, Polivitaminas para aumentar as defesas e dar força (?), a Desloratadina não fosse o Manel fazer alergia a algum dos medicamentos receitados. Como eram muitos medicamentos, tinha que proteger o estômago então ele indicou Omeprazol; e, já agora, pelo sim pelo não, um Diurético para aumentar a excreção das várias drogas receitadas.

E assim, o ti Manel, não duvidando dos vários diplomas expostos nas paredes do consultório do sábio Hipócrates, lá foi à Farmácia e gastou boa parte da sua Pensão em várias caixas requintadas e de cores sortidas.

No entanto, como ele no dia seguinte, não conseguia lembrar-se se os comprimidos “verdes” para a alergia, deveriam ser tomadas antes ou depois das cápsulas para o estômago, ou se devia tomar as amarelas para o coração antes ou depois das refeições, voltou ao médico.

Logo este deu-lhe uma caixinha com várias divisões, mas achou que o ti Manel estava muito tenso e algo contrariado. Receitou-lhe, então, Alprazolam e Sucedal para dormir e melhor descansar. Naquela tarde, quando ele entrou na Farmácia com mais receitas, o farmacêutico e seus funcionários até fizeram alas para ele passar pelo meio, enquanto, por dentro, sorriam de satisfação.

Só que o ti Manel, em vez de melhorar, foi piorando. Ele tinha todos os remédios num armário da cozinha e quase já não saía de casa, porque passava praticamente todo o dia, a horas marcadas, a tomar as pílulas.

Dias depois, o Laboratório fabricante de vários dos remédios que ele usava, deu-lhe um cartão de “Bom Cliente. Vendeu-lhe ainda, um aparelho para “tirar” a Tensão Arterial, e, deu-lhe uma máquina para medir “os” diabetes, um Termómetro digital, um frasco estéril para análise de urina e um lápis com o logótipo da Farmácia.

Só que, o ti Manel nas idas frequentes ao centro de saúde e à farmácia, em contacto com outros doentes, apanhou uma valente gripe. A minha tia Maria, como de costume, fê-lo ir para a cama. Mas, desta vez, além do chá com mel, chamou também o médico a casa. Ele disse que não era nada de grave, mas, para justificar a chamada, lá prescreveu o Antigripine para tomar durante o dia, e um Xarope com Efedrina para tomar à noite. Não fosse o diabo tecê-las e apanhar alguma pneumonia, receitou um antibiótico: 1 g de Amoxicilina de 12 em 12 horas, durante 10 dias; e como detectou uma pequena taquicardia, receitou Atenolol.

Pouco tempo depois, e por causa das resistências diminuídas, apareceram uns fungos, e depois herpes, o que o fez voltar à consulta, e o médico receitou Fluconazol e Zovirax.

Para piorar a situação, tio Manel começou a ler as bulas de todos os medicamentos que tomava, e ficou sabendo de todas as contra-indicações, advertências, precauções, reacções adversas, efeitos colaterais e interacções médicas e encontrou coisas terríveis. Não só que poderiam provocar a morte, mas que poderiam fomentar também arritmias ventriculares, sangramento anormal, náuseas, hipertensão, insuficiência renal, paralisia, cólicas abdominais, alterações do estado mental, e mais um monte de coisas terríveis. E com medo, voltou ao médico, que lhe disse para não se preocupar com essas coisas, porque os Laboratórios só colocavam essas coisas para se isentar de culpa.

- Calma, amigo Manel, não fique aflito, disse o médico, enquanto prescrevia uma nova receita com um antidepressivo Sertralina com Rivotril 100 mg. E como o Manel estava com dor nas articulações, receitou também, o Diclofenac, porque a felicidade tem que ser total, e a uma boa pílula, não há mal que a vença.

Nessa altura, sempre que o ti Manel recebia a Pensão, lá ia directo para a Farmácia, onde já tinha sido eleito cliente VIP.

Chegou uma altura em que o dia do pobre Manel já não tinha horas suficientes para tomar todas as pílulas, portanto, já não dormia, apesar das cápsulas para a insónia que haviam sido prescritas. Ficou tão mal, que um dia, conforme era advertido nas bulas dos remédios, bateu a “caçoleta”!

No funeral tinha muita gente, mas quem mais chorava era o farmacêutico.

Agora a ti Maria diz que, felizmente, mandou o marido ao médico em boa altura, porque senão..., com certeza, ele há muito que teria morrido!






"As minhas muletas deitei-as fora, a minha marreca já não me dobra. Ó senhor doutor esta doença só me dá para dançar!

A dor já não maça e eu não me canso, é cada guinada que eu até canto. Ó senhor doutor esta doença só me dá para dançar!

Faça qualquer coisa, que eu não tenho mais razões p'ra me queixar…

Já não emagreço nem fico gorda, e qualquer excesso deixa-me em forma. Ó senhor doutor esta doença só me dá para dançar!

O meu triste pranto ri-se com gosto, e o bem-estar é tanto que eu já nem posso. Ó senhor doutor esta doença só me dá para dançar!

A todo o mal do mundo dou bailarico, e até no futuro já acredito. Ó senhor doutor esta doença só me dá para dançar!

Gabo a má sorte do meu destino, e se vier a morte faz par comigo. Ó senhor doutor esta doença só me dá para dançar!

Faça qualquer coisa, que eu não tenho mais razões p'ra me queixar…"

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