domingo, 24 de fevereiro de 2013

Post para o meu amigo Pedro Sobreiro...


“Se eu podia dizer, pessoalmente, tudo isto ao Pedro? Claro que podia..., mas não era a mesma coisa!”

Quando conheci o Pedro, em meados dos anos 80, era ele um daqueles rapazolas com quem eu embirrava. Não sei lá muito bem porquê, se pela sua figura de quequinho, se pela sua irreverência constante, do tipo “bad boy” da Beirã; ou porque não me servia (ou ele não queria, porque dizia ter outros gostos e prioridades), para a minha equipa de futebol juvenil que recrutava todos os varões da sua idade.

A primeira conversa a sério, já ele homenzinho recém-casado, tivémo-la num serão no Bar Poejo em finais dos anos 90, na companhia do já seu cunhado Fernando Bonito. A conversa era daquelas que duravam muitas horas, onde o Pedro defendia a supremacia do vídeo sobre a escrita e os livros; em contradição comigo e com o Fernando, que embora não defendêssemos o oposto, tentávamos, pelo menos, convencer o Pedro que nos livros podíamos retirar proveitos e ensinamentos, que jamais o vídeo pelo seu imediatismo, nos poderia proporcionar. Defendia o Pedro que não, se ele podia ver, sentir e reflectir em simultâneo, e muito mais rápido, para quê estar a perder horas e horas em leituras de centenas de páginas!

Lembro-me ainda, nessa noite, quando já só os dois regressávamos a casa, ele de seu sogro e eu à minha, que eram próximas, o ter induzido a sair por uns tempos do concelho de Marvão, porque me parecia que uma viagem por “outros mundos” lhe traria aprendizagens e visões que, muitas vezes, o cantinho das serras castra. Isto para além de me parecer que, a sua personalidade, mereceria uma projecção regional ou mesmo nacional. Logo ali me disse que não, e que o seu futuro seria a sua terra, o concelho de Marvão.

Desde então, temos sempre cimentado a nossa amizade, umas vezes mais próximos, outras mais afastados, mas sempre com admiração e muito respeito mútuo.

Depois, a história do Pedro, é mais ou menos conhecida de todos. Com um crescimento rápido e brusco. De repente, o tal “rapazinho” tornou-se figura pública local, com pouco mais de 30 anos de idade, já era vice-presidente da Câmara do concelho da sua paixão.

Em minha opinião, terá existido algum deslumbramento, influenciado mais pelos que o rodeavam, do que por ele próprio, do qual conheço uma grande humildade. Só que a política, mesmo a local, mexe com muitos interesses instalados, propicia ao desenvolvimento de autenticas nulidades e figurantes. O “terreno” está quase sempre minado por jogos de conveniências, que não aceitam aqueles que pensam pela sua cabeça, que são competentes naquilo que fazem, e que põem à frente dos seus interesses pessoais ou dos amigos, o bem e interesse público. E isso é perigoso, muito perigoso...  

Não me vou fixar, por hoje, no infortúnio de que foi acometido recentemente, e que, por pouco, não lhe roubou a vida. Acho que, sobre isso, já escrevi e falei o suficiente. Nem tão pouco vou falar daquilo que ele refere, como o renascer de um “novo” Pedro, já que eu acho que não há novo Pedro nenhum! O que eu enxergo, no meu pouco entender da vida, é que, em cada dia que passa, temos de regresso o Pedro que todos sempre conhecemos. Possivelmente com diferenças, mas nós mudamos todos os dias, e o Pedro não foge a esta regra.

O último sinal deste retorno é o seu regresso à blogosfera, ao seu “vendo o mundo de binóculos...”, em detrimento da sua primeira opção “faceboqueana”. E é isso que eu hoje quero saudar e incentivar. Também não me parecia que o “face” (o qual eu próprio não renego), fosse o ideal do Pedro difusor de pensamentos e ideias, de vivências, de crónicas para consumir, mas, sobretudo, para reflectir e reler. O ambiente “bloguer” é, na minha opinião, aquilo que mais se adequa ao Pedro. Por isso o meu obrigado por estares de volta.

Apesar de existirem por aí muitos detractores deste tipo de intervenção, procurando denegri-los constantemente, evocando algumas coisas menos sérias que por aí vão aparecendo; mas quando se usa a seriedade, a frontalidade, o respeito pelos outros, mesmo os que não nos respeitam, os Blogs, sobretudo quando bem usados, são meios de informação e reflexão poderosos que chegam a todo o lado, e isso aborrece muita gente, mas paciência vão ter que nos aturar. São, simultâneamente, nos tempos que correm,  espaços de liberdade e de coragem.

Por enquanto, o que tenho lido do Pedro, são ainda crónicas de alguma introspecção pessoal e familiar, de alguém que está regressando de uma “viagem”, preocupado com a reconquista o seu “eu”, e, do seu espaço...; é natural e normal. Mas, nas duas últimas crónicas, já podemos ver o Pedro a olhar e ver em seu redor com um olhar aguçado!

Ninguém duvide, que mais dia, menos dia, o Pedro vai começar a Reparar no mundo, e nem vai precisar de binóculos, vai uma apostinha...  
           

1 comentário:

Pedro Sobreiro disse...

Meu querido João Bugalhão,


Antes de mais, porque sei que não gostas nada destas promiscuidades, recebe um beijo meu.


Não tem nada a ver com paneleirices, como lhe chamas, porque acho que de paneleiro não tenho nada. Com 40 anos já conheço muito bem a minha orientação sexual e a minha princesa, a minha patroa Cristina, patroa como eu gosto de lhe chamar, também já a conhece e ainda bem.


Um beijo de amizade, de respeito, de comunhão. Como o beijo que se dá ao pai ou ao irmão. Ou ao sogro também, porque não?, que eu gosto tanto do meu e ele é tão maneirinho.


Bem me falaste neste texto na noite de ontem, quando realizámos o nosso jantar mensal da tertúlia Tortulha da qual somos os dois membros com mais 7 amigos.


Mas eu ainda não o tinha lido, como te disse. E isto porque este P.R. (Pedro Renascido) continua a ter muito pouco tempo para si. Tem tempo para escrever e publicar e pouco mais. Com 2 filhas pequenas, tenho que me desdobrar para chegar a tudo.


Neste fim-de semana estou sozinho com as duas. A minha Cristina está a trabalhar em Lisboa, representado Marvão na Bolsa de Turismo e vai lá ficar todo o fim-de-semana. Dorme lá hoje e só regressa no domingo à noite ou segunda.


Só agora, quando a Leonor estuda no quarto e a Alice dorme a sesta é que tive tempo de vir espreitar o que escreveste e do que me falaste ontem à noite no jantar.


Agradeço as tuas palavras e o teu texto. Agradeço-te em tudo porque apesar de tu não gostares de mim ao princípio, como dizes, eu sempre gostei de ti. Nem sempre és fácil, é certo. O teu “ar” é difícil de mastigar porque passas a imagem de alguém que é importante e olha os outros de soslaio quando és das pessoas mais humildes e amigas que conheço. Esta do teu “ar” é estranha mas é verdade.


Essa é uma velha conversa, uma velha “luta”/”discussão” nossa que até é de estimação de tão antiga.
Para mim és um guru. Um fazedor de opinião como o jornal “Expresso” quer ser.


Ouço-te sempre, com respeito, admiração, abnegação porque quase sempre (reparaste que eu disse quase?) estás certo.


Só vi hoje o texto, desculpa.


Um abraço.

Um beijo,

Pedro