segunda-feira, 15 de julho de 2013

Bugalhão - Nome estranho...

Resumo da Investigação sobre a Árvore de Costados da Família Bugalhão

“Quem não tiver história e tradições perde a sua identidade e, consequentemente, o seu espírito crítico e a sua auto-confiança ficarão diminuídos.”

No passado sábado dia 13 de Julho, durante o III Encontro da Família Bugalhão, tive oportunidade de apresentar um resumo, sobre o estudo que efectuei, a que chamei “Bugalhão – nome estranho”.

Este Ensaio culminou uma investigação documental acerca das origens e transmissão do apelido Bugalhão ao longo de 300 anos, resultou num trabalho escrito com cerca de 100 páginas, onde relato todos os passos investigatórios e algum enquadramento histórico sobre a vida desta família tricentenária. Este trabalho escrito, poderá vir a ser editado no futuro, se existirem interessados no seu conhecimento.

Durante 6 meses mergulhei nesta aventura bugalhónica, cheguei a trabalhar mais de 10 horas por dia em consultas documentais e escritas, e posso garantir-vos que a paixão foi tão grande, que às vezes eu já não era o João Bugalhão nascido em 1957, mas cheguei a sentir-me aquele meu homónimo antepassado nascido em 1787, moleiro, morador no Moinho da Malpiqua, na Ribeira da Ponte Velha, casado primeiro com Joana da Conceição e depois com Cândida Rosa, e pai de 12 filhos!

Para realização e chegada a bom porto deste Ensaio, não posso deixar aqui de agradecer a colaboração de Fernando Mota, sem a qual, jamais este trabalho teria sequer começado. Fernando Mota, formado em História, funcionário da Biblioteca Municipal do Barreiro, a quem conheci por mero acaso através deste Blog, e na sequência da publicação da reportagem do II Encontro da Família Bugalhão; também ele com origens em Marvão, e com alguns dos seus familiares a cruzarem-se com Bugalhões, despertou em mim o bichinho desta investigação, orientou e acompanhou todo o processo. Aqui deixo publicamente um agradecimento Bugalhónico.

Passo a apresentar de seguida algumas das Conclusões deste Ensaio, que ficaram por apresentar no passado sábado, devido à extensão do resumo do trabalho.

A primeira referência que encontrei, nos documentos consultados, do apelido Bugalhão é de 1794, aquando da cerimónia de Crisma de um sujeito de nome Carlos, com 4 anos de idade, quando se diz ser este filho de José Bugalhão da Ponte Velha. Registo que aqui reproduzo:

Figura 1 - 1º Registo encontrado do apelido Bugalhão (Crisma de Carlos, filho de José Bugalhão da Ponte Velha, em 1794)

Fonte: Registos Paroquiais de SA das Areias/Marvão

Este José Bugalhão terá nascido em 1754 (existido algumas dúvidas com 1751), a sua ascendência paterna tem origem numa família de apelido “Toureiro”, oriundos de Alpalhão; e a sua ascendência materna tem origens numa família de apelido “Serrano”, oriundos da zona da Serra da Estrela, concelho da Guarda, freguesia de Arrifana, lugar de João Bargal de Cima ou São Bargal de Cima; o seu avô materno António Gonçalves Serrano, por volta de 1700, já era Moleiro no Moinho da Malpiqua na ribeira da Ponte Velha, do concelho de Marvão. É de realçar ainda, que nos finais do século XVII e todo o século XVIII o apelido “Serrano” é um dos mais frequentes em todo o concelho de Marvão; também o apelido “Toureiro” já existia em Alpalhão no início do século XVI (desde que há registos paroquiais).

Figura 2 - Assento de Baptismo de José Gonçalves Bugalhão, em 1754 (?) 

Fonte: Registos Paroquiais de SA das Areias/Marvão

Devido a estas ascendências familiares José Bugalhão, ao longo da sua vida, é também referenciado como José António (sua mãe era Antónia), José António Toureiro (seu pai tinha o mesmo nome e seu avô paterno era António Dias Toureiro), José Gonçalves Serrano (apelidos de seu avô materno); e José Gonçalves Bugalhão (Bugalhão, porquê? Algo para o qual não tenho resposta).

José Gonçalves Bugalhão/José Gonçalves Serrano, morre a 6 de Abril de 1810, de um Catarral, deixa 5 filhos vivos, em que um deles, João Gonçalves Bugalhão/João Gonçalves Serrano dará continuidade à casta. 

 Figura 3 - Registo Paroquial de Óbito de José Gonçalves Serrano em 6/4/1810 

Fonte: Registos Paroquiais de São Tiago/Marvão

Figura 4 - Folha de Rosto do Testamento de José Gonçalves Bugalhão falecido em 6/4/1810

Fonte: Arquivo Distrital de Portalegre

Poderão alguns questionar ainda, se estes diferentes nomes para um indivíduo, corresponderão à mesma pessoa? A minha resposta é que sim, já que todos eles dizem respeito a um sujeito que morou no mesmo local (primeiro no Moinho da Malpiqua e mais tarde no do Fraguil, onde morre); os nomes das esposas conferem (a primeira Catarina Maria e a segunda, por morte da primeira, Maria do Carmo); a sua avó materna, como refere seu testamento tem o mesmo nome (Maria Vaz); os nomes dos 5 filhos condizem (Teodora, Jacinta, Isabel, João e Carlos); e a data de óbito é a mesma (José Gonçalves Serrano e José Gonçalves Bugalhão, morrem no dia 6 de Abril de 1810). Só por milagre de todos os santos e santas de que José era devoto, poderiam permitir tal coincidência! 

Figura 5 - Árvore dos Costados da Família Bugalhão entre 1700 e primeira metade do século XVIII

Autor: João Bugalhão

Figura 6 - Árvore dos Costados da Família Bugalhão a partir da segunda metade do século XIX

Autor: João Bugalhão


Principais Conclusões deste Ensaio:

- O apelido Bugalhão é possivelmente oriundo do concelho de Marvão e da freguesia de Santo António das Areias, e exclusivo de uma só família, já que todos os sujeitos encontrados, aí parecem ter as suas origens e raízes, e facilmente se verifica serem familiares.

- Este apelido existe pelo menos desde o século XVIII. Nos registos consultados a sua primeira referência aparece em 1794 nos Registos Paroquiais de Santo António das Areias, aquando de uma cerimónia de Crisma, realizada na vila de Marvão, onde se refere ter sido crismado um sujeito de nome Carlos, filho de José Bugalhão, da Ponte Velha.

- José Gonçalves Bugalhão aparece em diversos registos, também tratado como José Gonçalves Serrano, e José António Toureiro ou apenas José António. Teve dois casamentos: primeiro com Catarina Maria, de quem teve 5 filhos: Teodora, Jacinta, Isabel, João e Carlos; e um segundo casamento com Maria do Carmo (que deve ter durado muito pouco tempo).

- Destes 5 filhos apenas João foi o responsável pela passagem do apelido Bugalhão, já que as filhas nunca o ostentaram (por serem mulheres), e Carlos faleceu com 20 anos (10 dias depois de seu pai), e sem deixar descendência.

- Durante a sua vida João é referido, tal como o pai, por mais que um nome: João Gonçalves Bugalhão e João Gonçalves Serrano. Teve também 2 casamentos: primeiro com Joana da Conceição, de quem teve 3 filhos: Jacinta, José e Genoveva; e um segundo com Cândida Rosa, de quem tem mais nove filhos: Francisco, Manuel, Raimundo, Maria, João, Joaquim, Bento, António e Joaquim.

- Destes 12 filhos o único de quem é conhecido deixar descendência, bem como passar o apelido Bugalhão, foi Francisco nascido em 1821, que em todos os documentos consultados é sempre denominado como Francisco Gonçalves Bugalhão; e que passa, a partir daí, o apelido a todos os seus filhos varões, e que deixaram descendência: Manuel (nascido em1845, que teve 12 filhos); João (nascido em 1847, que teve 2 filhos); José (nascido em 1852, que teve 6 filhos); e Custódio (nascido em 1863, que teve 2 filho).

- De 3 destes 4 sujeitos, chegaram até aos dias de hoje descendentes (não foi possível apurar descendentes de Custódio). Todos os Bugalhões que tiverem curiosidade de saber a sua ascendência, bastar-lhe-á uma pequena investigação e encontrarão em suas origens um destes três antepassados: Manuel, João, ou José.     

- Praticamente todos estes sujeitos de apelido Bugalhão, referidos até aqui, tiveram uma característica em comum: o terem sido Moleiros, nos diversos Moinhos na Ribeira de Marvão (Rio Sever), na freguesia de Santo António das Areias.

- O patriarca do clã, José Gonçalves Bugalhão, nasceu no Moinho referido como da “Malpique ou Malpiqua”, aí nasceram os seus 5 filhos (mas já sua mãe, e seu avô materno António Gonçalves Serrano aí residia nos finais do século XVII); acabou por falecer no Moinho da Fonte Santa, no sítio do Fraguil (na margem direita do Rio Sever, antiga freguesia de São Tiago), em 1810. No entanto, o seu filho João (nasceu e morreu), residiu sempre no Moinho da Malpiqua, na Ribeira da Ponte Velha, freguesia de Santo António das Areias

- A partir da segunda metade do século XIX, este Moinho da Malpiqua, deixa de ser referido nos registos (terá sido demolido ou mudou de nome), mas a sua localização terá sido entre a ponte da Ponte Velha e o pontão do Fraguil. Não me foi possível apurar até ao momento a sua localização exacta. José Gonçalves Bugalhão é sempre referenciado como Moleiro, bem como os seus ascendentes: pai, e avô materno; Moleiros são também seu filho João, seu neto Francisco, seus bisnetos Manuel, João e José; e pelo menos seu trineto Francisco nascido em 1877. Em finais do século XX, ainda a sua tetraneta Luísa, era Moleira num dos moinhos da Ponte Velha, mas possivelmente a última.

- Actualmente existirão cerca de uma centena de sujeitos que têm o apelido Bugalhão no seu nome. Mas de acordo com o que pude apurar, existirão apenas dois varões na família que, no futuro, poderão dar continuidade ao apelido. Pelo que aqui deixo o alerta do apelido poder estar em perigo de extinção.

- Quanto à antroponímia do apelido Bugalhão, não pude chegar a qualquer conclusão, e a sua origem irá permanecer como mistério. O mais provável terá sido através de uma qualquer alcunha (não nos esqueçamos que Bugalhão para o dicionário de língua portuguesa, significa Valentão, e os Bugalhões do passado parecem ter sido homens bastante corpulentos), já que os pais do primeiro sujeito referido como Bugalhão tinham de apelido Toureiro e Serrana, pai e mãe respectivamente. Não será de descartar também um possível rebaptismo para alguém que aderiu a uma irmandade religiosa, pois José Bugalhão terá pertencido à Irmandade dos Franciscanos, sedeada no Convento de Nossa Senhora da Estrela (como se pode constatar no seu Testamento). O apelido Toureiro também parece não ser um acaso, pois existiam no concelho de Marvão, no início do século XVIII, muitos sujeitos com esse apelido, referenciados como oriundos de Alpalhão e de Castelo de Vide (judeus?), onde de facto o apelido existia já no século XVI, altura de que há registos escritos, mas que também aí parece ter desaparecido. Já o apelido Serrano, parece ter sido dado aos sujeitos oriundos da zona da Serra da Estrela e que demandaram estas paragens, sendo um dos apelidos mais frequentes no século XVIII em todo o concelho de Marvão, fruto, certamente, de algum fenómeno migratório de povoamento.

Este é o meu contributo para a identidade da minha família. 

João Bugalhão

3 comentários:

Helena Barreta disse...

Muito interessante.

Um abraço

António José Bugalhão disse...

Olá João
Mais uma vez parabéns pelo teu contributo para o conhecimento do passado da nossa família.
Vou imprmir e dar ao meu pai para ler, ele vai gostar.
Grande abraço.
António José Bugalhão

Fernando da Mota disse...

Parabéns João.
Gostei muito da leitura.
Quanto à ajuda que dei...estamos cá para isso.
Um grande abraço,
Fernando da Mota