quarta-feira, 9 de outubro de 2013

As músicas da minha vida (2)


Numa época em que tanto se fala de heranças e sacrifícios de gerações: - Ai coitadinhos têm que emigrar, ai que desgraça de país, ai que temos que pagar privilégios de gerações anteriores...; convém lembrar que hoje, enquanto cidadãos europeus, Londres, Paris ou Berlim ficam à distância de 2 horas.

Nas décadas de 60 e 70, “a cidade”, a capital, ficava para a maioria dos portugueses a 9 e 12 horas de distância. As visitas à família faziam-se uma a duas vezes por ano. Eu ainda apanhei esse tempo. De Lisboa a Marvão eram 8 ou 9 horas de viagem. Quando em Agosto de 1971, com 14 anos de idade tive que rumar à vida (para bulir, não para ir para qualquer “facoldade” manhosa), à grande urbe, só voltei pelo Natal, e depois em Agosto do ano seguinte.  

A todos aqueles que nas décadas de 60 e 70 do século passado (os nascidos nas décadas de 40 e 50), dedico esta música da minha vida:


“Fiz-me à cidade, toda aldeia estava em minha busca, procurando os sítios onde eu era o «rei», perto das silvas, junto à ribeira. Vêm as velhas a quem eu fazia os seus recados, e vêm os homens que nascem nas fábricas, e oiço dizer: - Não tenhas medo! Não tenhas medo.

E olho para trás e vejo estes dias tristes. Recordo Teresa e o primeiro beijo, perto das silvas junto à ribeira.

Aqui neste comboio, fujo da tristeza, fujo da miséria, já nada me impede, corro contra o vento, corro atrás do tempo, não pode haver pior, não quero mendigar: - Vou para a cidade, vou para cidade...

E adormeço, sonho com a cidade, a capital! Vejo uma mosca atrapalhada, e oiço dizer:

- Não tenhas medo! Não tenhas medo...”


1 comentário:

Helena Barreta disse...

Já para não falar que emigrar naquele tempo era ir para o desconhecido, outra língua, outra realidade que nem sequer se conhecia.

Um abraço