terça-feira, 24 de junho de 2014

Ainda a respeito de milagres (ou da falta deles)...


Do melhor que li sobre esta treta que é a selecção portuguesa de futebol. Rui Rocha, com o brilhantismo do costume, resume, num episódio, as peripécias dos “benedictus” por terras de vera cruz.


“Naquele tempo, vendo-se em grandes dúvidas e apertos, Bento de Oviedo deitou cinquenta penas de sete galos negros do alto de um barranco e logo se fez um remoinho que as levou em direcção a uma nuvem que, se estava antes, ninguém a vira.

E a nuvem, fazendo-se boca e rosto humano, logo ali sentenciou com graves palavras: levarás o André Almeida porque é ele o eleito e está bem que seja assim porque é essa a minha vontade. E foram todos, André Almeida e os outros, até aos confins das terras conhecidas. Sendo que estes ficam exactamente em Manaus, ali onde começa a floresta mais impenetrável para os homens, mas muito aquém do alcance da mão de Mendes.

E estando, de todos os que foram, apenas onze em campo, ali André Almeida ficou coxo de pai e mãe. Vendo o sofrimento do eleito, Bento de Oviedo ergueu as mãos e disse estas e não quaisquer outras palavras, porque era essa a vontade de Mendes: levanta-te e anda. E o eleito andou.

Sempre a passo, ainda mais de meia-parte, sempre coxeando. E quando finalmente Veloso o substituiu, tendo duas pernas, dois pés e um par de chuteiras, correu ainda menos do que o eleito, muito apesar de não estar coxo nem andar coxeando."

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