sexta-feira, 25 de julho de 2014

"Gorjas" e afins...

Este país está que não se entende. Veja-se que, agora, anda meio Portugal agitado, apenas e só, porque Ricardo Salgado terá recebido e se terá esquecido de declarar uma gorjeta de 14 milhões de euros, provinda de um “pato bravo”, a quem o espírito santo terá ajudado em algum milagre, ou coisa do além. Não se percebe.

Então num país super católico, que todos os anos desembolsa milhões em oferendas a todo e qualquer santo das mais variadas paróquia, a maioria das vezes sem que se veja o resultado de suas intervenções, qual é o alarido por esta oferenda a mais esta divindade? Ah e tal que são 14 milhões, e isso é muito dinheiro; porque é que alguém oferece uma prenda tão valiosa; como é que alguém se pode esquecer que recebeu tão grande verba; etc. etc. O costume. Cá para mim não passam de invejas de outras divindades. É que não nos esqueçamos que, o espírito santo, é a 3ª pessoa na hierarquia da santíssima trindade. E qual não terá sido o milagre? Às tantas transformou o "pato bravo" em avestruz!  

Quanto ao esquecimento de declarar a "gorja" pela criatura? Nada mais natural. Eu próprio, que nunca fui nenhum santo, e quando era chamado a ajudar o próximo na minha actividade profissional, como por exemplo administrar uma simples injecção ou medir a tensão arterial, várias foram as vezes em que os beneficiários, como gratidão pelo alívio de suas maleitas, me presentearam com uma pequena moeda, dizendo: - É para beber um cafezinho senhor enfermeiro, e desculpe ser poucochinho, mas a vida, anda pelas horas da morte. Claro que eu nunca queria aceitar, e lá me ia desculpando que não tinham que me dar nada, porque o “estado” (isto é os contribuintes que eles eram), já me pagava, e, eu não podia aceitar. Mas a maioria das vezes as pessoas lá deixavam a moedita (100 escudos primeiro, e 50 cêntimos depois), sem que desse por tal em cima da secretária. E não foram raras as vezes que eu me esqueci da oferenda.

Não eram 14 milhões! Claro. Mas o espírito santo deve ser uma criatura muito rica (nem que seja apenas pelas esmolas que recebe desde que o mundo é mundo), e os 14 milhões podem ser para ele, o que eram para mim os 50 cêntimos... 

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