sábado, 21 de fevereiro de 2015

E o povo pá?...


(Dizer quase tudo (sobre o tema) em poucas palavras...)

por Rui Rocha

É óbvio que o entendimento alcançado entre o Eurogrupo e a Grécia representa uma vitória do governo de Atenas no domínio da semântica e uma cedência em toda a linha em termos substanciais. Mas o aspecto mais relevante do acordo nem sequer é esse. De facto, ao contrário do que aconteceu em momentos anteriores, não é a Troika, perdão, não são as Instituições que impõem um pacote de remédios ao país. Pelo contrário, como explicou o Ministro Varoufakis com incontida satisfação, é agora o próprio governo grego quem apresentará uma proposta de medidas que são a contrapartida da assistência financeira temporária. Isto mostra que as palavras de Juncker eram sinceras e que a Troika, digo, as Instituições aprenderam a lição.

Agora já não há pecados contra a dignidade dos povos, nem imposições humilhantes. É o próprio governo grego, no exercício da sua soberania, que toma a iniciativa de apresentar sugestões que contrariam as promessas eleitorais na base das quais foi eleito. E que celebra o facto como um grande sucesso. Não há, note-se, qualquer agressão exterior. Há, isso sim, liberdade de escolher e propor as medidas. A mesma que o escorpião tem quando, acossado pelo fogo, espeta no seu corpo uma dose de veneno. 

O Syriza ainda não percebeu, mas comete assim um suicídio financeiramente assistido. Estamos, na verdade, perante um verdadeiro Syrizicidio.

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