quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Município de Marvão campeão norte alentejano dos “ajustes directos”! (1)


A Administração Pública, para poder desempenhar as suas funções tem, frequentemente, necessidade de recorrer a entidades privadas para a aquisição de um conjunto de Bens e Serviços. Na Administração Central estes Bens incluem gastos correntes diversos tais como: material de escritório e escolar, alimentação, combustíveis, produtos farmacêuticos e outro material de consumo clínico; e incluem também os gastos em Serviços, tais como: os alugueres, a limpeza e a vigilância de instalações, o fornecimento de água, electricidade, gás, as comunicações, os transportes, a aquisição de serviços de saúde, estudos, pareceres e outros trabalhos especializados. Na Administração Local (Municípios), para além de toda esta parafernália de produtos, há a acrescentar todo o conjunto de obras e obrinhas, e a contratualização de serviços e avenças. Há quem diga que, é aqui que estão as tão faladas “gorduras do estado”, e que para emagrecer o “monstro” bastaria a criação de algumas “centrais de compras” para servirem toda a administarção (talvez regionais), privilegiar a “contratação pública” em vez do “ajuste directo”, e partilhar recursos humanos para evitar o rol de avençados que por aí andam.

Existem basicamente duas maneiras de contratualizar pela Administração Pública, quer a central quer a local: Concurso Público ou por Ajuste Directo. De grosso modo, a modalidade de “concurso público”, baseia-se na abertura de um concurso a várias entidades fornecedoras do bem ou serviço, que se pretende adquirir ou contratar, o que apresentar melhores condições é-lhe adjudicado o concurso. No caso do “ajuste directo”, a instituição escolhe um (ou mais que um) colaborador ou fornecedor, e contrata directamente o produto ou serviço.

A modalidade a privilegiar deveria ser sempre o “concurso público”, pois seria aquele que consagraria a melhor transparência e seria, em princípio, o mais benéfico para o Estado (isto é, todos nós), pois favoreceria a possibilidade de concorrência entre empresas, e a escolha de fornecedores com preços mais baixos. No entanto, devido ao facto de existir a necessidade, muitas vezes de fazer pequenas aquisições por instituições ou entidades, e o concurso público ser por vezes mais moroso, a lei criou a modalidade do “ajuste directo” para pequenos valores contratuais, com a finalidade de facilitar algumas compras.

O “ajuste directo” deveria ser sempre a excepção, e não a regra! Pois como é lógico, esta modalidade, presta-se a todo o tipo de dúvidas (favorecimento, compadrio, amiguismo, corrupção, etc.), e se bem que exista muita gente séria, não tenhamos dúvidas que, o contrário também é verdade. E na administração da coisa pública, é como a “estórea da mulher do outro”, mas ao contrário: não basta parecer, sério, tem mesmo que o ser. Porque é o dinheiro de todos nós que paga. E quanto mais se gastar, mais teremos de pagar, não duvidem.    

A provar que o “ajuste directo” deveria ser a excepção, está que houve a necessidade de introduzir limites monetários aos valores máximos a contratualizar. Só que em Portugal, país pouco dado ao rigor e a contas (onde a divisa é: o Estado é coisa abstracta e é para explorar); mas também de exploradores e de alguns de conquistadores, esse valor tem vindo a aumentar, situando-se actualmente nos 150 000 euros para empreitadas de obras públicas; e 75.000 euros para aquisições de bens e serviços. Mas existem outras excepções que permitem quase tudo. E parece que, ultimamente, o “ajuste directo”, passou a ser a regra e não a excepção.

A provar o que acabo de dizer estão os dados que apresento do Gráfico 1, referente ao ano de 2012, em que podemos verificar que 63% das aquisições de Bens e Serviços foram feitas por “ajuste directo”, e apenas em 37% se recorreu ao “concurso público”.

Gráfico 1 – Aquisição de Bens e Serviços no ano de 2012 pela Administração Pública em Portugal.



Dados mais recentes mostram que, o panorama não mudou muito nos últimos 2 anos para esta modalidade de “ajuste directo”, a valer em valores monetários 56% em 2013, e 52% em 2014. No Gráfico supra, podemos ainda verificar que, apesar de existir uma Plataforma Electrónica para usar nesta modalidade de contratualização, que permitiria um controlo e gestão mais eficiente na aquisição dos Bens e Serviços, a grande maioria destes contratos (60%), continuam a ser feitos em “papel”.

... e por cá, pelo norte alentejo, como vai a molenga? 

Depois de consultar a Plataforma Electrónica “base - contratos públicos online”, e de muitas contas e continhas, o ambiente encontrado não é muito diferente ao panorama nacional. Digamos até que, no caso do Município de Marvão, a situação roça o aberrante, e é o “campeão do ajuste directo” no que toca a verbas, que é o que interessa, quando comparado com os seus congéneres vizinhos (concelhos com menos de 4 000 habitantes),  como demonstrarei no próximo artigo sobre esta temática,

No cômputo dos 3 últimos anos (2012 – 2014), dos 116 contratos efectuados no Município de Marvão, 114 (98%) foram efectuados por “ajusto directo”; tendo recorrido apenas a “concurso público” em 2 dos contratos efectuados. É ainda de realçar que, no último ano de 2014, a totalidade (100%) da contratualização efectuada, foi por recurso a “ajuste directo”

Este panorama não muda muito, nos restantes concelhos observados - Castelo de Vide, Alter, Arronches, Fronteira, Monforte. Como se pode observar no Gráfico 2 no que toca à quantidade de contratos que privilegiam a modalidade por “ajuste directo”. Nos 3 anos analisados, sobressai Alter com “10 contratos públicos” e Castelo de Vide com 5.



Já no que toca às verbas implicadas nestas contratações, o panorama muda completamente de concelho para concelho, e não se pense que estamos a falar de “ninharias”. Estamos a falar, no caso de Marvão, de verbas que rondam os 4,2 milhões de euros (só superado por Arronches com 4,4 milhões de euros), e no total dos 6 concelhos de 27,5 milhões de euros!   

Mas isso é para um Post dos próximos dias, para este não ficar muito “maçudo”. Por agora fiquem a pensar no assunto, e opinem se quiserem...

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