terça-feira, 31 de março de 2015

O mundo dos outros...

Mais um texto fabuloso do Pedro Correia, que não posso deixar de partilhar. São reflexões como estas que ainda nos fazem acreditar que existe alguma lucidez no mundo.

O "rosto humano" dos homicidas

por Pedro Correia




"Nunca cessarei de me espantar com o reduzido valor da vida humana na moeda corrente do tráfego noticioso. Um indivíduo comete um crime horroroso, arrastando com premeditação para a morte centena e meia de inocentes a bordo de um avião como se fossem reses a caminho do açougue. E logo de todo o lado despontam peças amáveis, que o tratam familiarmente pelo nome próprio, atribuem o massacre de que foi responsável aos efeitos de uma arreliadora "depressão", difundem incessantemente fotografias do pacato e risonho rapaz que seria antes de se ter "descontrolado" e divulgam testemunhos abonatórios acerca da personalidade do visado, assegurando ao mundo que se tratava de uma pessoa tranquila, um rapaz "competente e sonhador".

E - cherchez la femme - jamais esquecem de mencionar, vezes sem conta, que o sujeito se viu abandonado pela namorada. Sugerindo assim ao leitor ou espectador incauto que a responsabilidade suprema do massacre não terá sido do assassino mas da rapariga que recusou prolongar o namoro. Nestes momentos surge sempre um psicólogo a mencionar a condição depressiva como "causa" do "acidente" (benigno vocábulo utilizado em profusão) e talvez nem falte até um sociólogo de pacotilha a mencionar o indivíduo como "vítima" de uma sociedade injusta ou do sistema capitalista, que "é por natureza repressor".

Já lemos e ouvimos de tudo nesta sociedade-espectáculo que cultiva a emoção em sessões contínuas mas segmentadas em capítulos sucintos e precários. Por isso a indignação de muito boa gente tem prazos de validade cada vez mais curtos e é dirigida a alvos móveis, que variam consoante a tendência do momento.
Neste caso, por exemplo, a primeira vaga de estridência nas redes sociais dirigiu-se contra a idade avançada da aeronave da Germanwings, uma companhia aérea de baixo custo integrada no grupo Lufthansa. Sem investigação, sem aprofundamento dos factos, sem nada comprovado: bastou alguém acender um rastilho para logo milhares de almas ferverem de fúria contra a companhia aérea que se permitia utilizar aparelhos tão "antigos". Na escala de valores contemporâneos, como sabemos, ser novo é sinónimo de ser bom.

O problema é que não se tratou de um "acidente", não foi um azar, não foi um capricho divino. Foi um homicídio premeditado pelo tal jovem sorridente e desportivo cujas imagens nos invadem o domicílio à hora dos telediários. Com o nome impresso por toda a parte, irresistível tentação para outros psicopatas que anseiam por minutos de fama à custa do sangue alheio.
Em vez uma bomba ou uma AK-47, o tal tipo amável optou antes por um Airbus 320 como instrumento do massacre. “Descontrolou-se”, repete alguém. Como já sucedera com aquele assassino norueguês, um monstro de sorriso gélido que em 2011 matou a sangue-frio 77 adolescentes num acampamento de Verão.
Também ele contou com a benevolência de psiquiatras que logo o consideraram “inimputável” – como se o mal não estivesse inscrito desde os confins dos tempos na condição humana. Também ele teve o nome e o rosto impressos por toda a parte.

Um e outro, celebridades instantâneas à escala planetária. Neste mesmo mundo em que tantos benfeitores permanecem anónimos e jamais serão procurados para notícia de telejornal."

segunda-feira, 30 de março de 2015

O mundo dos outros....

A primeira derrota de Costa

por Pedro Correia

António Costa decidiu derrubar António José Seguro, sem deixar o então secretário-geral do partido submeter-se ao teste das eleições legislativas após três anos em funções no Largo do Rato, com um argumento derivado do mais puro achismo lusitano: achava-se em melhores condições de protagonizar o ciclo político pós-Passos Coelho.

Isto sucedeu, note-se, no rescaldo imediato das eleições europeias de 2014, em Portugal ganhas pelo PS. Esse foi o terceiro triunfo de Seguro em três anos: antes, com ele à frente do partido, os socialistas tinham vencido as eleições regionais dos Açores e as autárquicas.

Costa achou "poucochinho" o triunfo nas europeias - que constituíram um descalabro generalizado para a família socialista no Velho Continente ao qual o PS português foi dos raros partidos que escapou - e, estribado na tropa de choque de José Sócrates, garantiu aos militantes que faria melhor do que os 38% das intenções de voto atribuídas a Seguro pelas sondagens à época.

Quase um ano depois, afinal, o PS permanece como estava: Costa não ganhou um milímetro nas pesquisas de opinião para o partido, que acaba de averbar uma estrondosa derrota nas eleições regionais da Madeira. Apesar de prometerem ser as mais propícias de sempre para a oposição socialista pois marcavam o fim do longo consulado jardinista.

Com um péssimo candidato a encabeçar a lista regional, uma desastrosa política de alianças que privilegiou o patusco Coelho - o Beppe Grillo funchalense - e o Partido dos Animais, e sem a menor capacidade de aglutinar a esquerda local, mais dividida que nunca, o PS acaba de ser remetido para mais quatro anos de oposição no arquipélago, assistindo impotente à revalidação da maioria absoluta do PSD, desta vez comandado por Miguel Albuquerque. E sem ter sido sequer capaz de ultrapassar o CDS como segunda força política regional.

Pior ainda: os socialistas recuam em relação ao anterior escrutínio, ocorrido em 2011, não só em número de votos e percentagem, mas também em lugares no Parlamento regional. Há quatro anos elegeram seis deputados (em 47), agora têm os mesmos, mas como concorreram em coligação com três partidos, um desses assentos caberá ao patusco Coelho, que se apressou a descolar do PS, esgotado o prazo de validade enquanto barriga de aluguer.

António Costa participou na campanha eleitoral da Madeira, apoiou o candidato fracassado, envolveu-se. E perdeu.
Estivesse ainda Seguro ao leme do PS nacional, acossado por um batalhão de bitaiteiros televisivos dispostos a "fazer-lhe a folha", e não faltaria o coro das carpideiras a bramar contra a "frouxa" liderança no Largo do Rato.

Como Seguro já não está, resta o silêncio.

domingo, 29 de março de 2015

Novidades da música portuguesa...


Primeira amostra da "caixa negra", o resto vem a seguir...

sexta-feira, 20 de março de 2015

Seriedade e experiência, e, também simplicidade...


É difícil, nos tempos que correm, perceber o que nos rodeia, tal a quantidade de coisas com que somos bombardeados constantemente. Não há cérebro que aguente. Por isso, quando nos aparece qualquer coisa simples e objectiva, de clara compreensão, não podemos deixar de o enaltecer. É o que se passa com este artigo de Francisco Sarsfield Cabral, que para além de simples, é claro e objectivo:


"O nosso défice orçamental deve ficar este ano abaixo de 3%, como prevê o Governo, mas arrisca-se a exceder de novo essa meta entre 2016 e 2019. 

Este alerta vem de Teodora Cardoso, presidente do Conselho de Finanças Públicas. Economista independente e respeitada, nada próxima do se chama a “direita neoliberal”, Teodora Cardoso avisou que tal retrocesso acontecerá se o próximo governo seguir uma política orçamental irresponsável, mesmo que a economia cresça. 

Para reduzir o défice estrutural, que leva em conta a evolução da economia, será preciso não eliminar todas as medidas restritivas ainda em vigor e tomar novas medidas. O crescimento económico não chega para tudo. 

Passos Coelho tem-se mostrado cauteloso quanto a futuras benesses. António Costa fala o menos possível sobre o será a sua governação no caso de ganhar as próximas eleições e conseguir formar governo. 

Mas o pouco que A. Costa diz vai no sentido de diminuir receita fiscal e aumentar a despesa do Estado. É vital que o alerta de Teodora Cardoso seja levado a sério, em vez de predominar a demagogia eleitoralista." 

sábado, 14 de março de 2015

quinta-feira, 12 de março de 2015

Para que quero eu olhos... e ouvidos?


Para que quero eu olhos
Senhora Santa Luzia
Se eu não vejo o meu amor
Nem de noite nem de dia

Oh és tão linda, és tão formosa
Como a fresca rosa que no jardim vi
Oh dá-me um beijo
Pra matar o desejo, que sinto por ti...





segunda-feira, 9 de março de 2015

Porque te calas Costa?...


Uma análise de Carlos Guimarães Pinto aos casos políticos da última semana, retirada daqui, e que acaba por estar de acordo com o que escrevi no meu último Post. Em Portugal só não foge aos impostos quem não pode. É preciso mudar mentalidades para que, se todos pagarmos, os ditos possam baixar! Desde que tenhamos políticos sérios...



"Com excepção do último caso (onde a culpa também está mais longe de ser provada) todos aconteceram quando os intervenientes não tinham responsabilidades políticas, envolveram montantes baixos e, mesmo tendo havido intenção, correspondem a comportamentos normais na altura em que aconteceram. Por isso, é difícil perceber como é que qualquer destes casos pode justificar a desqualificação destas pessoas para o cargo de primeiro-ministro. Talvez seja boa altura para colocar a histeria de lado."


domingo, 8 de março de 2015

Ó Laura, no dia da mulher, diz ao Pedro que peça desculpa aos portugueses...


Na verdade e, em verdade vos digo, o tal cidadão imperfeito, Pedro Passos Coelho, desligado do poder e assoberbado por dilemas morais, dificuldades de conhecimento e cumprimento da lei, é uma ficção. Não existe. O que temos é alguém que, eleito para representar o povo, se marimbava para o cumprimento das regras que ele próprio discutiu e/ou aprovou.

Isto não é diferente do que se passa com a maior parte daqueles que elegemos da direita à esquerda, nesta democracia da treta. Veja-se o caso de todas as regras de privilégios sobre direitos dos Deputados e Regulamentos da Assembleia da República, que são sempre aprovados por unanimidade! Alguém se lembra de algum deputado do PCP ou Bloco a dizer que são uns cidadãos favorecidos, ou a rejeitar alguma mordomia?

O que Pedro Passos Coelho fez é lamentável para um cidadão com o seu percurso. Eticamente é deplorável. Passos deve um pedido de desculpas a todos os portugueses.

Mas também a maioria dos portugueses já entrou em prevaricações destas. O Estado é para explorar, tem sido a divisa. Podem argumentar que não são governantes, nem primeiro – ministro, mas todos somos cidadãos, e o “crime” de Passos Coelho é na área da ética e da cidadania.

Mas onde estão esses tais cidadãos perfeitos? Quem estiver limpinho (mas mesmo limpinho), que atire a primeira pedra...



quinta-feira, 5 de março de 2015

Pois: é....


... acaba a valentia de um homem, quando a mulher que ele ama, vai embora! É, tanta coisa muda nessa hora que, o mais valente dos homens chora.

Diz que faz e acontece, que não tem medo de nada! Levanta a voz, fala alto, maltrata a mulher amada.

E quando ela cisma e vai embora a montanha se desmancha, e o mais valente dos homens, chora como criança...